Faz um
ano que Malala Yousafzai, a jovem paquistanesa que defendeu o direito
à educação e foi baleada pelos talibã, recebeu o Nobel da Paz. Hoje, a uma
semana de completar dezoito anos, a jovem volta a Oslo para um encontro de
líderes dedicado ao tema da educação onde deverá fazer uma retrospetiva sobre a
realidade mundial e o pedido de ação internacional que fez em 2014. Ontem
o The Telegraph publicou em exclusivo um texto escrito pela própria, que é um vislumbre da
mensagem que hoje deverá passar. Que, acreditem: é muito dura.
E impossível não nos deixar a pensar.
Malala começa por desfazer logo o mito em torno de si mesma, de
forma totalmente desarmante: “Muitas pessoas dizem-me que sou especial.
Contudo, isso leva-me a questionar: sou única porque sou uma rapariga a quem
foi negado ter educação? É que em todo o mundo há 60 milhões de meninas na
mesma situação”. E vai ainda mais longe: “É porque os inimigos da educação me
atacaram? Infelizmente, milhares de raparigas e rapazes estão inseguros
nas suas escolas todos os dias e muitos deles já foram atacados também.”
Malala retira-se do da qualidade de “especial” e inverte as regras
do jogo dizendo que quem foi especial no meio de tudo isto fomos “nós”. Os que
“lhe deram voz” quando os talibã a tentaram silenciar, os que “rezaram” por ela
e se insurgiram aquando do ataque que quase lhe roubou a vida, os que
garantiram que ela estaria a salvo e que poderia estudar sem medo de ser
morta por isso. Então e as restantes 60 milhões de estão na mesma
situação?
Oito dias
de guerra custam tanto quanto a educação de todas as crianças do mundo
Neste texto escrito com uma clareza de espírito impressionante, Malala relembra o massacre à escola paquistanesa onde morreram mais de cem crianças e dá ainda como exemplo as sete milhões de crianças sírias que sobrevivem em campos de refugiados, sem esperança. “O acesso à educação é a única chave para salvar o seu futuro”, lembra Malala. Mas o que temos feito nós por estas crianças? Basicamente, muito pouco ou nada. E isso deveria envergonhar-nos até porque as contas, segundo a Nobel da Paz, são mais fáceis de fazer do que podemos pensar.
Neste texto escrito com uma clareza de espírito impressionante, Malala relembra o massacre à escola paquistanesa onde morreram mais de cem crianças e dá ainda como exemplo as sete milhões de crianças sírias que sobrevivem em campos de refugiados, sem esperança. “O acesso à educação é a única chave para salvar o seu futuro”, lembra Malala. Mas o que temos feito nós por estas crianças? Basicamente, muito pouco ou nada. E isso deveria envergonhar-nos até porque as contas, segundo a Nobel da Paz, são mais fáceis de fazer do que podemos pensar.
O Relatório de Monitorização Global de Educação,
divulgado no início deste ano, estima que dar educação a todas as crianças
carenciadas do planeta envolveria um custo de 39 biliões de dólares.
“Parece um número grande, talvez impossível”, frisa Malala. “Mas na
realidade representa o que os governos de todo o mundo gastam com os seus exércitos em
apenas oito dias. Ou seja, em oito dias estamos a gastar tanto a fazer guerras
quanto poderíamos gastar a assegurar que todas as crianças recebem pelo
menos 12 anos de educação de qualidade.”
As contas e o discurso até podem parecer ingénuos e neste
texto Malala é a própria a dizê-lo. Contudo não desiste do seu slogan
pessoal: “Livros em vez de balas!”. E deixa claro. “É uma questão de escolhas.
Os nossos líderes continuam a escolher bombas e balas em vez de livros e
futuros brilhantes. E nós continuamos a permitir isso”.
A
hipocrisia da ação internacional
Malala relembra também que assegurar a educação básica a todas as crianças fez parte dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, lançados há quinze anos. “Fizemos progressos no que diz respeito a levar muitas meninas à escola pela primeira vez em países pobres, mas não nos preocupámos em mantê-las com acesso a essa educação”. A verdade é que o número de meninas que não vai para além do ensino básico é esmagador. Nas palavras de Malala: “Há uma geração de raparigas a quem foi dito que a educação básica é tudo a que têm direito. É inaceitável”.
Malala relembra também que assegurar a educação básica a todas as crianças fez parte dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, lançados há quinze anos. “Fizemos progressos no que diz respeito a levar muitas meninas à escola pela primeira vez em países pobres, mas não nos preocupámos em mantê-las com acesso a essa educação”. A verdade é que o número de meninas que não vai para além do ensino básico é esmagador. Nas palavras de Malala: “Há uma geração de raparigas a quem foi dito que a educação básica é tudo a que têm direito. É inaceitável”.
Ainda ontem três meninas foram atacadas com ácido sulfúrico no
Afeganistão a caminho da escola. Este ato hediondo já se tornou tão comum que
este casos começam a nem ser dignos de notícia. Mas o que será da vida destas
meninas, que tudo que fizeram de errado foi tentar ter acesso a educação?
Alguém vai fazer alguma coisa para as ajudar? Alguém se vai insurgir pela sua
sobrevivência? Caso sobrevivam aos ferimentos, alguém lhes vai atribuir um
prémio internacional e garantir que têm um futuro digno? Há algo de
muito hipócrita nas ações – e na falta delas – da
comunidade internacional no que diz respeito a este tema. E Malala é
a primeira a tentar lembrar ao mundo que milhões de outras meninas nesta
situação e que precisam de ajuda urgente.
Uma coisa é certa: não podemos
ficar à espera que um grupo terrorista tente matar outra criança que
insiste em querer ir à escola para que medidas concretas e reais sejam
postas em prática. Não é apenas o futuro destas meninas que está em jogo, é o
futuro do mundo no seu todo.