ADRIANA NEVES
02/04/2015 - 21:50
Todos os interessados podem participar
na formação que vai decorrer em Outubro
O modelo de intervenção norte-americano para melhorar a autonomia em autistas, Pivotal Response Treatment (PRT), vai começar a ser ensinado a partir de Outubro. A informação foi adiantada pela Focus, uma cooperativa portuguesa de solidariedade social que promove soluções inovadoras de apoio à comunidade que lida com perturbações relacionadas com o autismo.
Com o ensino deste
modelo, pretendem formar-se pessoas que consigam praticar o PRT para
desenvolverem a comunicação verbal, interacção social, aptidão académica e
outras competências de autonomia quando lidam com pessoas autistas. O projecto
trabalha várias áreas: encoraja a aprendizagem através de pistas e respostas;
providencia várias opções, tarefas e actividades às crianças; ensina a fazer
perguntas e a interpretar o próprio comportamento.
Fernando Barbosa, presidente da Focus, espera que, depois da formação, as
pessoas que lidam com os autistas consigam melhorar os seus comportamentos “nas
áreas da socialização, comunicação, comportamento e construção de competências
académicas”.
“Um dos principais objectivos do PRT é diminuir o stress dos pais”,
declarou ao PÚBLICO Fernando Barbosa, adiantando, no que diz respeito à educação,
o programa se baseia “no currículo geral das crianças típicas, em vez de
utilizar um específico para as crianças com autismo” realizando-se “o mínimo de
adequações curriculares, apostando na motivação das crianças para o
desenvolvimento de competências" que ainda não adquiriram. Desta forma,
tenta combater-se um dos problemas mais sérios que essas pessoas enfrentam: a
incapacidade de utilizar as suas competências para participar de forma autónoma
na comunidade.
Apesar de começar agora a ser introduzido em Portugal, o projecto começou a
ser desenvolvido nos anos 70 pelos psicólogos Robert Koegel e Lynn Kern Koegel,
da Universidade da Califórnia com o intuito de fornecer um guia para se
conseguir lidar melhor com as necessidades autistas. Robert L. Koegel
considera que este método é uma versão melhorada das análises comportamentais
mais tradicionais. No entanto, é mais eficaz porque as actividades são
realizadas como brincadeiras, havendo uma maior motivação que faz com que a
criança queira trabalhar para alcançar as tarefas que lhe são propostas.
A formação de Outubro vai abranger não só os profissionais, como também
“todas as pessoas que lidam diariamente com esta problemática e que são
decisivas para o desenvolvimento”. Pais, professores, auxiliares de educação ou
pessoas que tenham curiosidade em conhecer a intervenção, são alguns dos
exemplos dados por Fernando Barbosa como potenciais interessados em
inscrever-se. A formação vai decorrer no Porto e o custo vai depender dos
apoios conseguidos, rondando, para já, os 200 euros.
Com o certificado internacional, os formandos vão poder aplicar os
conhecimentos adquiridos a todas as crianças e jovens que apresentem défices em
“uma ou várias áreas do desenvolvimento” e não exclusivamente aos que
apresentam sintomas de autismo. O objectivo é que, depois da formação, as
pessoas se consigam adaptar às características pessoais de cada indivíduo.
A Autism Speaks, organização norte-americana que promove campanhas de
sensibilização para o autismo e investigação científica, considera que o PRT é
um dos tratamentos mais “estudados e validados” no que diz respeito a estes
comportamentos.
Fernando Barbosa alerta que “a comunidade em geral está pouco informada
sobre as reais necessidades das pessoas com autismo” e que associa que quem tem
esta perturbação “apresenta certas características que correspondem a alguns
estereótipos” transmitidos em filmes e séries televisivas. A “ideia deturpada
do que é” faz com que o preconceito e a insensibilidade da sociedade levem,
muitas vezes, à discriminação das pessoas com autismo.
Os apoios do Estado, que Fernando Barbosa considera “muito reduzidos ou
inexistentes”, são factores apontados para a pouca informação da sociedade
sobre este problema, impedindo “uma intervenção ajustada às suas necessidades”.
Especificando a comunidade escolar, o presidente da Focus explica que esta
“carece de uma formação inicial e contínua especializada”, não permitindo que
os profissionais trabalhem eficazmente com crianças e jovens autistas.
Em Portugal,o único estudo português que existe acerca da perturbação foi
realizado em 2005 e indica que cerca de uma pessoa em cada 1000 teria autismo.
Cerca de 1% da população mundial tem uma perturbação relacionada.
Fernando Barbosa explica que esta é “a perturbação de desenvolvimento que
regista o maior crescimento e é mais frequente comparativamente a outras
condições da infância, como por exemplo, o défice cognitivo, a paralisia
cerebral, a surdez, os défices de visão e a distrofia muscular.”
Esta quinta-feira assinalou-se o Dia Mundial de Consciencialização do
Autismo, criado com o intuito de sensibilizar e consciencializar a população
mundial sobre esta doença que afectará cerca de 70 milhões de pessoas em todo o
Mundo.
Texto editado por Andrea Cunha Freitas
Fonte: http://www.publico.pt/sociedade/noticia/modelo-para-uma-maior-autonomia-dos-autistas-vai-chegar-a-portugal-1691233?page=-1
Fonte: http://www.publico.pt/sociedade/noticia/modelo-para-uma-maior-autonomia-dos-autistas-vai-chegar-a-portugal-1691233?page=-1
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