terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Já abriu a 1.ª escola de Atletismo Adaptado do país

Onde há vontade não há limitações. É este o lema da primeira escola de Atletismo Adaptado do país, que inaugurou esta quinta-feira em Lisboa. O objetivo é dar às pessoas com deficiência uma oportunidade de ultrapassarem as suas dificuldades e de saborearem a alegria e bem-estar trazidos pelo desporto.

A ideia é o concretizar de um sonho do atleta paralímpico Jorge Pina, ex-pugilista que se dedicou à maratona em sequência de ter perdido quase totalmente a visão aos 28 anos de idade. Depois de um ano piloto em que se limaram arestas e se afinaram estratégias, a escola entrou, finalmente, em funcionamento, no Parque de Jogos 1.º de Maio da Fundação INATEL.


Atualmente, esta escola de atletismo adaptado tem já 70 "aprendizes", mas Jorge Pina quer chegar a muitos mais. "Sabemos que são mais de 150 os alunos com deficiência em Lisboa e é a esses alunos que queremos chegar. E, para além desses que foram referenciados pela DREL, pela DGESTE, pelo desporto escolar, sabemos que há muitos mais que não estão sinalizados, que estão em centros de reabilitação", admite o maratonista português.

Projeto quer chegar a todo o país e abarcar outras modalidades

A escola funciona três vezes por semana, das 09.00h às 12.00h, e dispõe de técnicos especializados em todas as áreas, entre os quais José Santos, Luís Herédio, Rui Raposo ou Sérgio Silva, que oferecem aos alunos formação em diversas expressões do atletismo, desde o lançamento à velocidade, passando pelo salto em comprimento. 

"São técnicos já com muita experiência no desporto adaptado, treinadores já com várias medalhas conquistadas. Todos eles estão aqui prontos para poderem receber estes jovens e ajudar", frisa Jorge Pina, acrescentando que a escola está preparada para acolher e treinar "pessoas com qualquer tipo de deficiência".

Embora a maior parte dos alunos tenha sido sinalizada pelos organismos responsáveis, todos estão convidados a juntar-se ao projeto. "Os pais podem vir por iniciativa própria, trazer os seus filhos e inscrevê-los, ou podem procurar no site da Associação Jorge Pina e pedir informações e lá nós vamos ajudar e indicar o que devem fazer e como devem aparecer", explica o atleta paralímpico. 

Agora que o ano de experiência terminou e que a escola arrancou a todo o gás, Jorge Pina ambiciona fazer dela uma referência nacional. "Esperamos espalhar a escola por outras partes do país e esperamos crescer para outras modalidades", revela, desvendando que "já há contactos que estão a ser feitos para que isso possa acontecer". 

Apesar do projeto ser, para ele, um sonho antigo tornado realidade, o ex-pugilista faz questão de sublinhar que a maior sensação de realização provém dos sorrisos que vê estampados no rosto dos alunos sempre que ali se juntam para a prática desportiva e que o 'feedback' de todos é "muito bom".

"É uma alegria e uma felicidade enorme, porque ao saber que estou a dar alegria e felicidade estou a recebê-la também. Isso para mim é melhor do que receber qualquer prémio ou qualquer coisa, porque é isso que eu procuro e todos nós procuramos, felicidade e alegria", confidencia, visivelmente emocionado.

"Venham, inscrevam-se e divirtam-se!"

Soraia Oliveira, de 17 anos, foi uma das primeiras jovens a ingressar na escola e garante ao Boas Notícias que a experiência "está a ser óptima", até porque pode fazer exercício físico sem sair da sua cadeira de rodas. "Eu acho que é uma grande oportunidade para nós, que temos problemas", destaca a aluna, que diz ter "gostado muito" de conhecer Jorge Pina e de "participar nas atividade".

Para Soraia, a possibilidade de fazer desporto contribui para que as crianças e jovens com deficiência se sintam mais respeitados na diferença. "Apesar de sermos assim, somos iguais aos outros e temos direito a fazer todas as atividades que eles fazem. Somos diferentes, mas conseguimos fazer tudo", assegura. 

A mesma opinião é partilhada por Elói Pina, de 12 anos, também ele aluno desta escola desde o primeiro dia e dependente de uma cadeira de rodas para se locomover.

"Tanto para os mais novos como para os mais velhos, é uma grande oportunidade", defende, garantindo que a experiência o tem ajudado a sentir-se "perfeitamente normal".

Com um sorriso nos lábios e uma expressão orgulhosa - até porque vir à escola de atletismo adaptado é sempre "um entusiasmo" -, deixa uma mensagem a todos os outros meninos e meninas que queiram superar os seus limites e correr sem precisar de pôr os pés no chão: "Venham, inscrevam-se e divirtam-se!"

Por Catarina Ferreira e Rute Fidalgo

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