segunda-feira, 13 de abril de 2015

Programa para ajudar autistas chega a Portugal

ADRIANA NEVES 
02/04/2015 - 21:50
Todos os interessados podem participar na formação que vai decorrer em Outubro





















O modelo de intervenção norte-americano para melhorar a autonomia em autistas, Pivotal Response Treatment (PRT), vai começar a ser ensinado a partir de Outubro. A informação foi adiantada pela Focus, uma cooperativa portuguesa de solidariedade social que promove soluções inovadoras de apoio à comunidade que lida com perturbações relacionadas com o autismo.
Com o ensino deste modelo, pretendem formar-se pessoas que consigam praticar o PRT para desenvolverem a comunicação verbal, interacção social, aptidão académica e outras competências de autonomia quando lidam com pessoas autistas. O projecto trabalha várias áreas: encoraja a aprendizagem através de pistas e respostas; providencia várias opções, tarefas e actividades às crianças; ensina a fazer perguntas e a interpretar o próprio comportamento.

Fernando Barbosa, presidente da Focus, espera que, depois da formação, as pessoas que lidam com os autistas consigam melhorar os seus comportamentos “nas áreas da socialização, comunicação, comportamento e construção de competências académicas”.
“Um dos principais objectivos do PRT é diminuir o stress dos pais”, declarou ao PÚBLICO Fernando Barbosa, adiantando, no que diz respeito à educação, o programa se baseia “no currículo geral das crianças típicas, em vez de utilizar um específico para as crianças com autismo” realizando-se “o mínimo de adequações curriculares, apostando na motivação das crianças para o desenvolvimento de competências" que ainda não adquiriram. Desta forma, tenta combater-se um dos problemas mais sérios que essas pessoas enfrentam: a incapacidade de utilizar as suas competências para participar de forma autónoma na comunidade.
Apesar de começar agora a ser introduzido em Portugal, o projecto começou a ser desenvolvido nos anos 70 pelos psicólogos Robert Koegel e Lynn Kern Koegel, da Universidade da Califórnia com o intuito de fornecer um guia para se conseguir lidar melhor com as necessidades autistas. Robert L. Koegel considera que este método é uma versão melhorada das análises comportamentais mais tradicionais. No entanto, é mais eficaz porque as actividades são realizadas como brincadeiras, havendo uma maior motivação que faz com que a criança queira trabalhar para alcançar as tarefas que lhe são propostas.
A formação de Outubro vai abranger não só os profissionais, como também “todas as pessoas que lidam diariamente com esta problemática e que são decisivas para o desenvolvimento”. Pais, professores, auxiliares de educação ou pessoas que tenham curiosidade em conhecer a intervenção, são alguns dos exemplos dados por Fernando Barbosa como potenciais interessados em inscrever-se. A formação vai decorrer no Porto e o custo vai depender dos apoios conseguidos, rondando, para já, os 200 euros. 
Com o certificado internacional, os formandos vão poder aplicar os conhecimentos adquiridos a todas as crianças e jovens que apresentem défices em “uma ou várias áreas do desenvolvimento” e não exclusivamente aos que apresentam sintomas de autismo. O objectivo é que, depois da formação, as pessoas se consigam adaptar às características pessoais de cada indivíduo.
A Autism Speaks, organização norte-americana que promove campanhas de sensibilização para o autismo e investigação científica, considera que o PRT é um dos tratamentos mais “estudados e validados” no que diz respeito a estes comportamentos.
Fernando Barbosa alerta que “a comunidade em geral está pouco informada sobre as reais necessidades das pessoas com autismo” e que associa que quem tem esta perturbação “apresenta certas características que correspondem a alguns estereótipos” transmitidos em filmes e séries televisivas. A “ideia deturpada do que é” faz com que o preconceito e a insensibilidade da sociedade levem, muitas vezes, à discriminação das pessoas com autismo.
Os apoios do Estado, que Fernando Barbosa considera “muito reduzidos ou inexistentes”, são factores apontados para a pouca informação da sociedade sobre este problema, impedindo “uma intervenção ajustada às suas necessidades”. Especificando a comunidade escolar, o presidente da Focus explica que esta “carece de uma formação inicial e contínua especializada”, não permitindo que os profissionais trabalhem eficazmente com crianças e jovens autistas.
Em Portugal,o único estudo português que existe acerca da perturbação foi realizado em 2005 e indica que cerca de uma pessoa em cada 1000 teria autismo. Cerca de 1% da população mundial tem uma perturbação relacionada.
Fernando Barbosa explica que esta é “a perturbação de desenvolvimento que regista o maior crescimento e é mais frequente comparativamente a outras condições da infância, como por exemplo, o défice cognitivo, a paralisia cerebral, a surdez, os défices de visão e a distrofia muscular.”
Esta quinta-feira assinalou-se o Dia Mundial de Consciencialização do Autismo, criado com o intuito de sensibilizar e consciencializar a população mundial sobre esta doença que afectará cerca de 70 milhões de pessoas em todo o Mundo.
 


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